Fala comigo doce como a chuva e me deixa ouvir

A tradução brasileira da peça de Tennessee Williams inclui a palavra doce nessa fala que dá título ao texto. Essa ação, fruto de uma tradição que explica e simplifica os títulos na hora da tradução, diminui a força do que se pode dizer e do que se pode ouvir.
 
Fala comigo como a chuva, aquela que cai quando ainda tem sol, ou como a chuva mas a que grita, trovoada. Fala comigo como uma chuva de domingo, ou fala comigo como uma chuva que inunda. Fala comigo como a chuva que infiltra, como a chuva que de tão fina não se ouve, mas molha, ah essa molha. E me deixa ouvir, como quando me surpreendo quando ouço a chuva mas vejo sol. Tranquilo numa tarde de domingo quando a chuva é a desculpa boa para ficar. Irritado quando inunda, me bloqueia de ir, sair, vazar. Me deixa quase sem ouvir ao cair leve, mas me molha. Fala comigo através do atrito da gota na telha. Mas também fala comigo como a chuva que afirma a certeza que eu nunca vou ouvir a chuva, em si, mas somente como ela me toca.
 
“fala comigo…” é uma pesquisa escultórica e fotográfica a partir da elasticidade que há entre aquilo que se fala e aquilo que se ouve e, por isso, também é sobre adaptação e tradução. Clica aqui logo pra começar.