Cidades oxidadas

 

Na exposição CIDADES OXIDADAS de Rosemário Souza, vemos uma série de trabalhos que situam-se na investigação por meio da linguagem da pintura contemporânea. A materialidade pictórica e a policromia advêm das experimentações dos agentes ácido fosfórico e gel decapante, sobre placa de aço carbono, que é levada à exaustão na pesquisa do artista, num confronto austero, bravio e destemido de enfrentar a exploração da matéria e ressignificá-la em carnação pictórica.

A motivação temática da mostra recai sobre a paisagem urbana. Nela vemos cidades oxidadas, corroídas, enferrujadas, monocromáticas em variações de tons terrosos e acinzentados que aludem estar carcomidas pelo tempo, remetendo a ruinas, degradações e também a um estado de solidão instalado em aglomerações humanas, aludindo assim, a cidades desabitadas, amorfas. Enfim, cidades vistas como um território de crise.

A cidade é tema recorrente no percurso criativo de Rosemário. A cada nova série, ele nos apresenta e reapresenta uma provocação, um conflito sobre a paisagem urbana. O corpo físico da matéria pictórica somado à pele cromática dá às pinturas uma atmosfera densa de uma denúncia silenciosa sobre o cotidiano do homem que reside no espaço urbano em confronto com a degradação e o isolamento.

Em CIDADES OXIDADAS vemos a transformação da matéria, a geometrização informal, cortes, dobras, furos, justaposição de formas, corrosão, oxidação, ferrugens, num forte embate de transformação da matéria. As tomadas compositivas, figuras, fundos, profundidades, cores, materialidades, orquestram de forma uníssona e golpeiam a nossa cosmovisão, denunciando e alertando que talvez ainda resta uma esperança, mesmo que em meio ao caos agora tão ameaçador.

Aninha Duarte/ Primavera / 2019

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